ela tinha três diários, um intimíssimo que lia no escuro do quarto, um a que se dedicava toda segunda-feira à tarde e o terceiro, de capa preta, em que anotava tudo, tudo, hora a hora dos dias, desenhava com tinta nanquim de muitos tons, e depois escolhia os detalhes que narrava às amigas com quem saía religiosamente pra jantar no início das noites de domingo. foi se dividindo entre eles, em cada um escrevia um tipo de assunto, até o dia em que percebeu que era uma personagem em busca de um nome. molly era o seu nome verdadeiro mas ela queria ter sido chamada por outros sons. assim parecia que ela era título de romance barato - desses de banca de revista, de amores oitocentistas, em que tem sempre um cara e uma menina derretidos um com o outro, que custam dois reais e se chamam júlia, sabrina, rebeca, bianca, e que você lia escondido da sua mãe quando tinha onze anos de idade.
certa vez molly ouviu a seguinte conversa na mesa ao lado - ela jamais evita escutar as falas alheias:
- não sei o que você viu nela. ela é uma mulher comum.
- ela tem o olhar de desejo.nada comum.
molly se lembrou de quantas vezes na vida lamentou não despertar nos homens todos um olhar de fogo. sabia que nunca os tinha deixado ver o que lhe faltava, seu despudor; ela própria tão aflita por alguém que a achasse pronta, leve e suave.
segunda-feira, 7 de maio de 2007
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2 comentários:
Estou escutando.
em seguida, caminhando de cabeça baixa por uma floresta escura, absorto, pensativo, com as mãos nos bolsos: tem coisa que não vem pronta nem por decreto.
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