quinta-feira, 28 de agosto de 2008

LIV

uma cor ganha contorno em matéria. vagarosidade num vórtice que concentra o castanho, dentro do meu, seu olho.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

L

de uma vez em que algo terminara, ele guardava uma música agora em não-ritmo hip hop. mabel sentiu seu coração parar. era assim sempre que compreendia quanta dor lhe causara.

mas não queria que as histórias fossem jamais esquecidas, se elas é que são o estofo do amor. uma vez teve coragem para perguntar-lhe se fôra feliz, ele respondeu que sim, ela ficou aliviada e agradeceu às mulheres da vida dele. porcelana em pedaços. agora era sua voz firme o que ouvia dizendo: que se regozijara ao vê-la superar a angústia, finalmente.

numa tarde longínqua conversavam numa poltrona cor de chá sob a janela e ele via, com nitidez, que ela era capaz de viver alguma felicidade por si própria. então não fazia parte daquele quadro, e silenciosamente desejou-lhe sorte.


ela nunca mais apareceu na minha vida, na minha mente novamente
eu sei que o que ficou não desapareceu, a minha vida muda sempre lentamente.
como a lua que dá voltas pelo céu, e mexe tanto com o presente quando ausente.
eu sei, não sou vidente mas sei o rumo do seu coração



mabel esperou que ele continuasse a falar. não, seus olhos escureciam, ele sentia um peso qualquer, só dele. talheres de prata batendo num assoalho sem tapete. não se meteu, mas não teve medo.

aquela era uma noite porosa, emoções de diferentes densidades moldando o quarto. tanta entrega, o silêncio dentro d´água, os dois braços num abraço fundo e que duraria muito, muito.

ele não disse mais. ela ao contrário, não o poupou de sua narrativa-escrita-de-diário. dizia a ele que uma voltagem alta lhe fazia olhar à volta os objetos, mas que era dele, só dele, sua fome. e a intimidade. ele levou às mãos à testa para rir do inevitável: nada é capaz de fazer parar uma mulher a não ser aprender sobre a mudez que subjaz em toda sua falação voluptuosa.

rir, talvez do amor.