segunda-feira, 21 de junho de 2010

IV, ch. III

começou o inverno e mabel precisou esvaziar caixas, abrir outras tantas, descobriu que armazena na caixa postal 19135 mensagens. lamenta que tenha jogado fora, sem querer, milhares de outras que esqueceu num disco antigo. há quase três centenas de anéis que repousam, à espera.

III, ch. III

era aniversário de sua avó, morta há muitos anos, mas sentia saudade como se fora anteontem.

sábado, 29 de maio de 2010

II, ch. III

nem todo mundo ali tinha sabido o que era preparar um enxoval, para algumas delas a vida precisou ser vivida a cada dia, sem planos nem presentes de cerimônias. afinal algo em que se reconhecia. mais próximas do que jamais tinham suposto,  partilharam certezas nunca ditas em voz alta. um dos casamentos terminou, o outro - e mais um - atravessam tudo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

X, ch.II

ele não a amava. como ela não viu?  atravessou a igreja ao seu lado, e ele  sequer se voltou para ela no trajeto inteiro da nave da catedral.
um homem te ama se caminha a seu lado acompanhando seus passos, um riso tantas vezes voltado para você.
na superfície, o amor é uma companhia, o olhar que te aquece num atravessar de rua, o mais banal de todos os passeios de pedestres.
no fundo, o amor é só uma temperatura. dividida. você sente que.

I, ch. III

aprenderam a viver umas com as outras há tanto tempo. fizeram as contas: não passavam mais de um dia juntas desde os vinte anos. da última vez não havia os filhos, os móveis e os livros, os maridos novos, os antigos, os casamentos e os namoros desfeitos, os amores sobreviventes, o desfazimento das vidas, um refazer de tudo. 
da última vez não tinham vivido ainda. 




saíram  de manhã bem cedo, o aeroporto fechado por causa do nevoeiro, a conversa esticada num café. sentiam-se como árvores, as raízes por tantos lados.  já tinham vivido então.
qual com sua saudade, o encontro com a própria história, foram viajar: cinco. tanto tempo depois do encontro marcado para o ano 2000, aquele que esqueceram, pois o que bem sabiam era por à prova as tradições que construiam para si.

sábado, 22 de maio de 2010

IX, ch. II

há dias acordava procurando o que ler, uma escrita feminina, quem sabe, o mundo contado em histórias narradas por mulheres. Estava saturada da aridez altiva dos homens. Ela precisava de outra substância. O livro que colocou na mala, no dia de ir à praia, cabia bem na bolsa de fora, e não pesava. Achou-o na mesa de cabeceira, empilhado dentre tantos: Hannah Arendt. Sua companheira invisível de viagem, guardada dos olhos das amigas, que naquele fim de semana estavam mais no mood Sex and the City que Simone & Jean-Paul.

 “... algo bem diferente ocorre com a liberdade de falar um com o outro. Ela só é possível no trato com o outro. O decisivo não é de maneira alguma, cada um poder dizer o que bem entendesse, ou cada homem ter um direito imanente de se expressar tal como era. Trata-se aqui, talvez, da experiência de ninguém poder compreender por si, de maneira adequada, tudo que é objetivo em sua plenitude, porque a coisa só se mostra e se manifesta numa perspectiva, adequada e inerente à sua posição no mundo. Se alguém quiser ver e conhecer o mundo tal como ele é ‘realmente’, só poderá fazê-lo se entender o mundo como algo comum a muitos, que está entre eles, separando-os e unindo-os, que se mostra para cada um de maneira diferente e, por conseguinte, só se torna compreensível na medida em que muitos falarem sobre ele e trocarem suas opiniões, suas perspectivas uns com os outros e uns contra os outros. Só na liberdade do falar um com o outro nasce o mundo sobre o qual se fala, em sua objetividade visível de todos os lados. O viver-num-mundo-real e o falar-sobre-ele-com-os-outros são, no fundo, a mesma e única coisa.”

terça-feira, 27 de abril de 2010

ano do tigre

os anos do tigre são acelerados, é preciso estar atento e forte. e alerta. neste ano, há que se estar dedicado, e ágil. no curso diário, dá-se com as situações que mesmo as mais fáceis representam um período instrutivo e importante. carneiro de fogo, tome nota! reserve um tempo para as atividades coletivas. e converse com outros sobre si, e sobre eles também. tente avançar. mesmo que você seja o antigo no futuro.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

VIII, ch. II

os ciganos

VII, ch. II

os filhos de caim

VI, ch. II

os paraquedistas

V, ch. II

pode imaginar a dor que a mulher ao lado sofrera. sentiu por ela uma compaixão inevitável. é que ela camufla mal seu arrependimento, e não sabe mesmo o que fazer com a solidão por que é o desamparo em carne viva. dizem certas cartas solares que cada mulher que tenha nascido sob o signo de virgem aprende a superar. desejo a ela que sim.

IV, ch. II

abril é o mês em que ela lê cartas alheias. ano após ano faz isso, deve ser a proximidade do inverno, com seus recalques, escuridão e peso incontornáveis. antes as achava, às cartas, perigosas, por que ficavam sendo pra sempre um segredo dela, algo do qual tinha se apropriado para sempre. agora não, a solidariedade a faz esquecer do que leu.
a quem se deve contar quando se tem esse hábito pouco nobre, de bisbilhotar a vida alheia? a ninguém, talvez. é como explicar um sonho seu a alguém diferente do analista que ouve seus resmungos toda segunda feira no meio da manhã.
sente um pouco de medo de destampar uma panela fervente. mas não, pensando bem, não é mais medo o que tem - isso é uma insignificância do temor;
é só um hábito,
tem tantos outros mais corrosivos, mais perversos consigo própria e os outros.
já maltrarara muito a si mesma quando respeitava os silêncios dos seus homens tirânicos, já sofreu por não ter tido a oportunidade de perdoar. agora aprendeu a deixar a ansiedade ficar a seu lado, morar consigo por uma tarde, não mais.
é capaz de sorrir por dentro da imensa semelhança entre as desgraças, as suas e as dos outros, todos aqueles que não conseguem se transformar em fazedores de arte, em criadores em estado puro - só estes sabem desconhecer as regras e saltar nos abismos- um depois do outro- da liberdade. não é assim conosco, as almas bem pequeninhas que imploram por iluminações profanas.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

XLVII

musicas em novas versoes me capturam irremediavelmente, por vezes penso que que poderia canta-las todas. e uma especie de vicio da minha geracao, todas as mulheres adorariam ser paula toller - a voz que so cresceu a despeito das cancoes banais e derramadas com que aprendeu a cantar. voltei para casa na ultima noite ouvindo brian adams em versao mais acucarada, mas que fica muito bem no lugar de um cartao em dia de namorados. entao, va la:

II, ch. II

a sexualidade é vulcânica.

I, ch. II

ela não perdoa a si mesma por não ver os amigos, afogada num turbilhão de coisas por fazer, de conversas repetidas ad nauseum que nem são as mais perdidas, e entretanto tomam toda sua imaginação. pergunta a si mesma onde está a "vida de tirar o fôlego" que o ar da cidade traz? se tudo tem se resumido a intermináveis reuniões no trabalho. um pouco de vácuo, por favor.