quarta-feira, 15 de abril de 2009

LV

nas quartas à tarde eu tinha pesadelos com abismo, solidão irremediável, estradas retas e desertas que eu tivesse que trilhar como partira; antevia chuvas de nuvens carregadas, céus desabando logo mais à frente ou o alaranjado úmido do ar antecedendo a tempestade. certo é que quartas eram o dia de chorar da semana, a jornada da síndrome do abandono na minha vida recente.
há semanas anoitece mais cedo, e sopra um vento de outono. não que tenha cessado meu choro, mas há centenas de dias ele já não é so desamparo e toda espera nunca mais é dolorosa. quartas-feiras agora são tardes de esperança, essa memória do desejo.

LIII








mabel escolhe invariavelmente o caminho longo. e respira.

LII

hoje está longe de ser um dia qualquer. num aniversário você se dá conta do que são, de verdade, estações de um ano: é que aqui faz sol o tempo todo e a temperatura quase não varia, se descontados uns poucos graus acima, outros abaixo.
num aniversário ele sente que estão vivendo um tempo condensado, ela conta às amigas que se sente leve e liberta de tantos medos e que deve rezar.
pensou se faria um almoço em que serviria maçãs, mel e peras, mas no final o que racionou foram os ovos de chocolate. era um domingo para ser silencioso,sem festa, que ela só queria sentir o calor emanando da casa, as horas vagarosas desdobrando histórias novas pelos lugares que já viram tanto, tanto.
ela se lembrou das massas fininhas abertas com rolo sobre o mármore - como pareciam frágeis assim estendidas em superfícies largas mas eram ali em sua forma perfeita. podem dobrar-se sobre si mesmas, sempre a um passo de quebrar-se, mas resistem: a liga é seu suor.
num aniversário você se espanta. a liga é seu suor e o dele; quanto mais superfície melhor.