sábado, 22 de maio de 2010

IX, ch. II

há dias acordava procurando o que ler, uma escrita feminina, quem sabe, o mundo contado em histórias narradas por mulheres. Estava saturada da aridez altiva dos homens. Ela precisava de outra substância. O livro que colocou na mala, no dia de ir à praia, cabia bem na bolsa de fora, e não pesava. Achou-o na mesa de cabeceira, empilhado dentre tantos: Hannah Arendt. Sua companheira invisível de viagem, guardada dos olhos das amigas, que naquele fim de semana estavam mais no mood Sex and the City que Simone & Jean-Paul.

 “... algo bem diferente ocorre com a liberdade de falar um com o outro. Ela só é possível no trato com o outro. O decisivo não é de maneira alguma, cada um poder dizer o que bem entendesse, ou cada homem ter um direito imanente de se expressar tal como era. Trata-se aqui, talvez, da experiência de ninguém poder compreender por si, de maneira adequada, tudo que é objetivo em sua plenitude, porque a coisa só se mostra e se manifesta numa perspectiva, adequada e inerente à sua posição no mundo. Se alguém quiser ver e conhecer o mundo tal como ele é ‘realmente’, só poderá fazê-lo se entender o mundo como algo comum a muitos, que está entre eles, separando-os e unindo-os, que se mostra para cada um de maneira diferente e, por conseguinte, só se torna compreensível na medida em que muitos falarem sobre ele e trocarem suas opiniões, suas perspectivas uns com os outros e uns contra os outros. Só na liberdade do falar um com o outro nasce o mundo sobre o qual se fala, em sua objetividade visível de todos os lados. O viver-num-mundo-real e o falar-sobre-ele-com-os-outros são, no fundo, a mesma e única coisa.”

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