quando era criança sonhou que saltava de um pier para mergulhar, e os mergulhos naquele mar eram para trocar de nome. se lembrou que precisava perguntar à
mãe se podia mudar o próprio nome, a mãe disse que sim, ela escolheu a versão feminina do nome de um príncipe de desenho animado. mergulhou. e pintou os cabelos ruivos. pela primeira vez acordou se perguntando - ao menos era assim que se lembrava - para que serve um sonho assim.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
segunda-feira, 21 de junho de 2010
IV, ch. III
começou o inverno e mabel precisou esvaziar caixas, abrir outras tantas, descobriu que armazena na caixa postal 19135 mensagens. lamenta que tenha jogado fora, sem querer, milhares de outras que esqueceu num disco antigo. há quase três centenas de anéis que repousam, à espera.
III, ch. III
era aniversário de sua avó, morta há muitos anos, mas sentia saudade como se fora anteontem.
sábado, 29 de maio de 2010
II, ch. III
nem todo mundo ali tinha sabido o que era preparar um enxoval, para algumas delas a vida precisou ser vivida a cada dia, sem planos nem presentes de cerimônias. afinal algo em que se reconhecia. mais próximas do que jamais tinham suposto, partilharam certezas nunca ditas em voz alta. um dos casamentos terminou, o outro - e mais um - atravessam tudo.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
X, ch.II
ele não a amava. como ela não viu? atravessou a igreja ao seu lado, e ele sequer se voltou para ela no trajeto inteiro da nave da catedral.
um homem te ama se caminha a seu lado acompanhando seus passos, um riso tantas vezes voltado para você.
na superfície, o amor é uma companhia, o olhar que te aquece num atravessar de rua, o mais banal de todos os passeios de pedestres.
no fundo, o amor é só uma temperatura. dividida. você sente que.
I, ch. III
aprenderam a viver umas com as outras há tanto tempo. fizeram as contas: não passavam mais de um dia juntas desde os vinte anos. da última vez não havia os filhos, os móveis e os livros, os maridos novos, os antigos, os casamentos e os namoros desfeitos, os amores sobreviventes, o desfazimento das vidas, um refazer de tudo.
da última vez não tinham vivido ainda.
sábado, 22 de maio de 2010
IX, ch. II
há dias acordava procurando o que ler, uma escrita feminina, quem sabe, o mundo contado em histórias narradas por mulheres. Estava saturada da aridez altiva dos homens. Ela precisava de outra substância. O livro que colocou na mala, no dia de ir à praia, cabia bem na bolsa de fora, e não pesava. Achou-o na mesa de cabeceira, empilhado dentre tantos: Hannah Arendt. Sua companheira invisível de viagem, guardada dos olhos das amigas, que naquele fim de semana estavam mais no mood Sex and the City que Simone & Jean-Paul.
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