quinta-feira, 10 de maio de 2007

IV

havia uma escada sempre iluminada, fosse dia ou noite, num prédio à esquerda da rua em que subiam a cada vez que ela ia, ressabiada, acompanhá-lo até a casa. devia a ele a espera, o silêncio, devia.
ele deixou-a rapidamente, a cabeça entre os ombros, ela dizendo palavras para dentro de si enquanto devorava a imagem das suas costas se afastando. sentia saudade dele logo um segundo depois de cada vez que o via à distância. queria escrever-lhe cartas tão delicadas em que dissesse que sim, gostava nele dos menores cuidados, andar de mãos dadas.
não, não me deixe à deriva que assim posso ir embora, e sem que você note - morreríamos os dois dessa vez, não há duas primaveras num mesmo ano.
mabel loomis, a que escreve diários, aprendera a sofrer e sabia que ainda o mais atroz dos sofrimentos terminava. algo nela dizia que era felicidade,não importava o quanto aquilo lhe enganasse com seus mergulhos doloridos, suas faces de assombro. havia uma escada, o lance ascendente, um corrimão de ferro pintado em branco; o telhado solto na beira, um amor incondicional, ela o sabia. podia esperar milênios.

2 comentários:

Luiz Henrique Vieira disse...

texto impressionante!
vai escrever bem assim, lá na casa da mabel...

OCSB disse...

carlos achou que mabel estava silenciosa. silenciosa, como se de frente a uma janela cheia de luz.
ela é bonita... um olhar de estranhamento para si, que ao mesmo tempo era de tanta admiração e alegria...