domingo, 20 de maio de 2007

VIII

mabel recebera a carta de c.f., adorava quando ele escrevia. concordava com ele sobre o ímpeto dos homens, também com o que ele não escrevera sobre a timidez dada como certa das mulheres. pedra e seda, a duração improvável que esgarça antes do atrito terminar.
esta linha nitidamente demarcada, mais intuída que descrita por c.f., era a do decoro, a aparência de pureza que tanto protege as figuras convencionais de um casal ou de um par à espera do futuro. ou daqueles longos casos de amor, cheios de abreviaturas secretas, mensageiros aliciados de confiança, excursões prediletas, ausências que são terríveis e datas clandestinas memoráveis.
crédula do amor que parece alucinação, mesmo a si mabel parece excessivamente sentimental, banal, e entretanto respeita por demais a liberdade que a expressão dos sentimentos aquosos lhe concede - a uma mulher é inevitável, os homens disfarçam melhor esse impulso absurdo para dramatizar toda emoção, essa predileção por gestos efusivos.
ela chama a si própria e a outras manifestações da vida feminina tantas vezes mulherzinha pois gosta do tamanho do cotidiano que se deixa compreender somente no diminutivo. exatamente ali onde a inocência sempre foi algo relativamente elástico.

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