quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

XXXII

ela não sabe o que fazer com os lamentos e as jaulas. a cidade insegura e você vive, somente. ela evitava guerras a qualquer custo. todo cotidiano acaba sepultando raivas, era por isso que, em temperaturas altas, se calava sempre . alguém te diz não de muitos jeitos, e você insiste, tenta, finge não ouvir, mas o grande não é um pano de fundo. nada a fazer além de seguir, e sozinha. já não se cala mais diante dos seus homens, pois agora sabe esquecer os filtros - dizer, dizer, dizer - mesmo que quase nada reste. ela corre todos os riscos da desproporção.
vê você, em silêncio, mexer nos dedos. não pode mais olhar à sua volta. do outro lado do corredor viu a dureza da face dela. você, uma síntese - resumo, no masculino. os gestos inteiros de um homem. afasta as maõs de pedinte dela - não, não toque minha pele. ela é de um humor intenso, aflita por partir numa despedida envergonhada. você, estrangeiro de si mesmo por um segundo. como um disco antigo que você desaprende a ouvir, mas aos primeiros acordes reconhece tudo: cadência, tonalidades, estalos. ela não repara que o jogo na tv acabou. tampouco, na violência velada. você pensa nos animais.

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