quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

XXXV

tenho uma grande amiga, que não conheci na infância, e, como eu , nasceu sob o signo de virgem. de novo, como eu, sofre do mal de fazer perguntas infindáveis. isso certamente é razão de tantas afinidades, umas secretas, outras explícitas. ela tem o nome de alguém que nasceu no inverno, um desejo mal escondido de sua mãe de que a filha fosse uma rainha do gelo, ou, no mínimo, uma mulher pacificada com a espera, a placidez e a correção dos matrimônios. pobre senhora(a mãe): como quase todas de sua geração (a da mãe) delega às filhas a tarefa que não foram capazes elas próprias de cumprir com um sorriso nos lábios. mulheres pacificadas? com o que, ou como é possível, se sobram cicatrizes à menor manifestação de vida? pois bem, mais um filha rompida com o sonho da mãe. outra mulher com um desejo voraz do mundo. outra mulher vivendo uma saga em busca sabe-se lá de qual extâse. semanas atrás vi minha amiga, vejo-a sempre, só pra trocar o telefone todo dia no fim da tarde por uma conversa longa e ao vivo. chegara à melhor e óbvia das conclusões: não eram mais os homens o que procurava, era ela mesma; tampouco ela neles, mas no regozijamento que os namoros fugazes lhe causam. não são os homens - nem interessa que sejam ocidentais, muçulmanos ou introspectivos, atirados, exímios amantes ou criaturas exiladas - mas o próprio gosto do sexo. acabara de encontrar a primeira e mais crua das respostas, quase quatro décadas depois: o desejo não é do outro, é só de um lampejo de transcendência da própria origem. não é pouco: dá muita vontade de dançar músicas prediletas em comemoração à descoberta. afinal de contas, nem que seja para isso as desilusões dos anos sessenta nos serviram. mulheres são seres capazes de viver sós. a felicidade não é sua (delas) obrigação ou tarefa. é só gozo, como o de gastar os meses de verão à beira-mar. brisas.

2 comentários:

juliana disse...

hhh

juliana disse...

ritinha...quantos sentimentos maravilhosos ao ler esta postagem...obrigada por vc me ajudar a me entender, a entender as mulheres...