quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

XXXIV

você tinha dois dias de idade. dois dias de vida!, meu deus, não parava de me assombrar com essa medida. o número mais improvável de que tinha consciência, a quantidade mais frágil que jamais pensara conhecer de tão perto. me lembro do ímpeto de escrever no espaço reservado ao nome da mãe, o da minha, não o meu próprio. seu pai tocou numa flauta transversal uma melodia que nunca me pareceu mais triste e era só o começo: pela estrada afora, eu vou bem sozinha.
você já tem todos os traços de uma menina, e fomos juntas à praia. gosto tanto quando andamos de mãos dadas, me divirto dando longas explicações pra tudo; te chamar por pequenos nomes que vão mudando. ontem na escola você dançava ao som de raul seixas: pode partir sem problema algum, boa viagem.

Nenhum comentário: