segunda-feira, 23 de julho de 2007

XVI

molly aprendia aos poucos a olhar e, olhando, enganar a contemplação. depois contava a quem era de direito que imaginava a posse. costas à distância. quando o dia terminava, uma frase seca era capaz, sozinha, de instalar o espanto e o sublime do azul escuro daquela água. mergulhava sem dó. de vez em quando, não precisava ceder à urgência, deixava-a descansar - virar nuvem, um véu suave, que o envolvia lentamente sem qualquer palavra. ondas que, sabe, o alcançam. senão agora, na vida à frente. molly constrói armadilhas para o tempo: disfarça num olhar de paisagem o desejo todo do mundo que sente. copo de vidro em alta temperatura. chá pelando, o lábio de baixo queimando no vapor. pensava longas frases antes de adormecer e guardava os detalhes mais insignificantes nas mãos e braços à sua volta. talvez não soubesse ou não pudesse jamais dizer do quanto era, mas era muito.

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