segunda-feira, 30 de julho de 2007

XXI

mabel loomis é uma alma oitocentista. adora ler Tocqueville, coitado, descrevendo em cores fortes as mulheres nas barricadas de fevereiro e junho de 1848, sem contudo compreender seu furor. mas Tocqueville entendeu algo de precioso: mesmo que em idéias escorregadias, desejos e teorias falsos, direitos subterrâneos, energias obscuras, uma mulher sempre aposta.
"Foi essa mistura de cúpidos desejos e de falsas teorias que, depois de desencadear a insurreição, tornou-a tão formidável. (...) Sob o impulso das necessidades e das paixões, muitos haviam acreditado nessas idéias. Tal obscura e errônea noção de direito, que se misturava à força bruta, comunicou a essa força uma energia, uma tenacidade e um poderio que por si só jamais teria tido. (...) essa insurreição terrível foi a sublevação de toda uma população contra outra. As mulheres nela tomaram parte tanto quanto os homens. Enquanto estes combatiam, elas preparavam e traziam as munições; e, quando afinal, tiveram de se render, foram as últimas a se decidir. Pode-se dizer que as mulheres trouxeram à luta as paixões da vida doméstica; contavam com a vitória para o bem-estar de seus maridos e para a educação de suas crianças. Amavam essa guerra como teriam amado uma loteria.” Alexis de Tocqueville, lembranças de 1848.

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