terça-feira, 24 de julho de 2007

XVII

há dias em que ela não suporta o pó acumulado nos livros e papéis. não são dias nem fáceis nem frequentes. jogou fora coisas muito antigas, molduras, fotos de bibliotecas na europa, bilhetes, agendas, arrancando algumas páginas com os retratos que precisa guardar.
mabel uma vez se dividira entre seus dois homens, gastou um ano inteiro nisso e o alívio só veio quando chegou um terceiro, um que só soube habitar a superfície dela. um encontro ligeiro, era alguém com quem apenas aprenderia a beber whisky. naqueles dias ela se despediu de um amor, depois do outro, e então cantou pra si mesma uma canção banal transformada em mantra: "aí na minha vida tudo mudou". ficou só, absolutamente só, depois dessa farra, claro. mas aprendeu ali a rir dos homens, tão respeitosos do seu próprio silêncio e poder. a bem da verdade, ela aprendeu a gostar de verdade dos homens, o gênero, com os acontecimentos daquele ano. viu-os pela primeira vez como iguais a si, o choro, o gozo, as ranhuras, a prepotência, a vaidade e o medo - tudo que sempre houve nela própria, em cores mais vibrantes neles que nela, achava. soube afinal que não era da sentença deles do que precisava para viver, era de sua doçura e carne.
em seus tons de cinza e amarelo, mabel é uma mulher monótona, farras não são para ela.

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